O Que É Ser Nômade Digital

 

Texto: Mônica Morás

Cada dia mais pessoas têm se tornado nômades digitais, é quase uma tendência. Somos bombardeado com o assunto, mas pouco fica claro sobre como isso funciona na prática, todas as dores e delícias desse estilo de vida tão tentador e cada dia mais cobiçado. Baseado na nossa experiência, contamos como isso tudo funciona sem meias palavras. Dica: não é fácil!

O que é ser nômade digital?

Nômades digitais são pessoas que não têm casa e realizam seu trabalho através internet e das tecnologias que permitem mobilidade. Eles não têm endereço fixo, carregam tudo que possuem na mala e todo o negócio é administrado online. É importante entender o conceito de nômade digital como ele é por causa da glamourização que tornou esse termo um sonho de consumo. Repetindo: Nômade = pessoa sem casa; Digital = trabalha pela internet.

Qual a diferença de nômade digital e profissionais de localização independente?

Nômades digitais são pessoas que não têm casa, todos seus pertences cabem na mala que carregam e o negócio em que trabalham acontece online. Apenas o passaporte os prende a algum lugar geográfico do mundo. É o estilo de vida mais desprendido de todos e que exige muita resiliência (capacidade de se recuperar facilmente ou se adaptar às mudanças).

Profissionais/empreendedores com localização independente (location independent entrepreuneurs) são pessoas que têm um negócio que lhes proporciona flexibilidade para viajar, podem trabalhar de casa ou viajar por longos períodos, mas têm para onde voltar. São essas as pessoas que deixam o apartamento no Airbnb enquanto estão fora e/ou as coisas guardadas na casa da mãe. Não existe nada de errado com isso, diria que é quase perfeito, afinal eles têm uma casa para voltar e flexibilidade para viajar administrando o próprio negócio.

Como Eduardo e Mônica se definem: nômades digitais ou profissionais de localização independente?

Nenhum dos dois! Somos fotógrafos e administradores acima de qualquer outra categorização. Desculpa a sinceridade! Mas desde de Junho de 2014 não temos mais nada (!!!) no Brasil e todo nosso trabalho acontece online, o que nos torna tecnicamente nômades digitais. Porém adoraríamos ser profissionais de localização independente, ter para onde voltar, decorar a casa, etc. O que nos impede de ter isso é que ainda não decidimos onde seria nossa base, porque não nos sentimos mais pertencentes a lugar nenhum, nem mesmo ao Brasil.

Qualquer pessoa pode ser nômade digital?

Teoricamente sim, mas na prática pode ser que não.

Qualquer pessoa pode criar um blog ou uma loja virtual, algumas profissões ainda já permitem flexibilidade como designers, programadores, escritores entre tantos outros. Mas isso não impede que qualquer outra profissão possa ser tentada a distância, só que algumas simplesmente não vão dar certo. E não é por falta de capacidade, é porque existem sim trabalhos que exigem a presença física e constante do profissional. E também existem aquelas que se tornam quase perfeitas se feitas a distância, contrariando as mais pessimistas expectativas.

A outra questão é quão apegada a pessoa é a um lar. Tem gente que gosta de estar perto da família e amigos, ter o churrasco de domingo, pequenas rotinas do dia-a-dia que só um lar proporciona e porque faz manter o equilíbrio quando tudo é caos. São pessoas que gostam de ir, mas gostam mais ainda de ter para onde voltar. A frase “Nada como a casa da gente!” é perfeita para quem se sente confortável e feliz desse jeito.

Dá para ganhar dinheiro desse jeito?

Dá sim, às vezes mais, às vezes bem menos.

Ser nômade digital é um estilo de vida que exige muito desapego e principalmente resiliência, mas também dá bastante flexibilidade e autonomia. A grande questão é descobrir o que fazer para ganhar dinheiro e essa é a parte mais difícil para a grande maioria. E digo que é difícil, porque é preciso ter foco no foco do cliente, ou seja, não é o que você quer oferecer, mas é o que o cliente precisa e está disposto a pagar para ter. É a partir da necessidade dele que você consegue adaptar o seu produto ou serviço para atender a demanda sem perder essência e personalidade do negócio.

Nós somos um exemplo prático: aprendemos a trabalhar com fotografia de interiores, porque era isso que a maioria dos nossos potenciais clientes precisava. Continua sendo fotografia, continua sendo prazeroso, o trabalho continua com personalidade própria e pagando as contas. Não era esse o sonho, mas é isso que faz correr atrás dele. Leia 85 Ideias de Trabalhos para Nômades Digitais e Freelancers

O que Eduardo e Mônica fazem para viajar e trabalhar?

Já contamos no post Viajar e Trabalhar como trabalhamos e como foi nossa experiência de 6 meses em Shanghai. Resumindo: O Eduardo é fotógrafo profissional e eu escrevo e fotografo aqui pro blog, além de ter como profissão marketing de relacionamento, então todo mundo que conhecemos, mostramos nosso site, nosso portfólio e as coisas vão acontecendo no boca a boca. Não é à toa que passamos mais tempo em alguns lugares e temos todos os aplicativos locais de chat! 

Já fizemos vários tipos de trabalhos de fotografia, venda de fotos, alguns textos em parceria para revistas locais, mas o principal é a fotografia de interiores para estrangeiros que vivem na Ásia ou locais que querem anunciar seus espaços. A grande maioria dos pagamentos nós recebemos via Paypal (50% de entrada, 50% na entrega), mas em alguns raros casos nós trocamos por hospedagem. Digo raros, porque o nosso trabalho vale mais do que uma (ou algumas) diária. E geralmente quando existe troca, o pessoal se esforça o dobro para agradar e tornar a experiência não muito autêntica. Por isso preferimos fotografar, entregar as fotos e receber em dinheiro por isso.  

 

Quais as desvantagens de ser nômade digital?

  1. Tudo fica lá no endereço fixo que o nômade não tem mais, desde a família, os amigos e até a rotina constante para manter uma alimentação adequada e uma agenda de trabalhos equilibrada. Às vezes a gente só quer ir no mercadinho de sempre e saber onde tá e quanto custa o iogurte, sem ter que redescobrir essa informação a cada mês numa cidade completamente diferente.

  2. É preciso recomeçar o tempo todo, porque é uma nova cidade, novas pessoas, novos cafés, novo valor da moeda. Ter que reconstruir o networking, fazer novos amigos e aprender a lidar com novas culturas é bem desgastante, principalmente quando se sabe que os laços serão rompidos em pouco tempo.

  3. Tem que se preocupar o tempo todo com a internet e definir o destino e local de trabalho a partir da qualidade da conexão. Ficar tentando novos cafés, torcer para entrar o 4G, conectar o VPN, mudar os planos de estadia conforme a velocidade de wifi disponível e muitos outros dramas relacionados a tecnologia.

  4. As burocracias de visto e prazo para ficar no país, que aumentam mais ainda a necessidade de ficar mudando a cada 1 ou 3 meses e a preocupação com a segurança do passaporte.

 

Quais as vantagens de ser nômade digital?

  1. Flexibilidade e autonomia para decidir o que, onde e quando fazer o que quiser fazer. Para quem gosta de viajar, ser nômade digital é quase sinônimo de liberdade. O que não significa que trabalhe menos, inclusive na maioria das vezes trabalha muito mais do que o pessoal do esquema 8h-18h e ainda nos lugares onde todo mundo está de férias. Mas ainda assim a liberdade compensa!

  2. Tempo para se aprofundar na cultura local e ter experiências e formas de interação que normalmente que está de férias não tem. Tem coisas que demandam tempo para serem compreendidas e esse estilo de vida transforma a forma de se relacionar com as pessoas.

  3. Ainda sobre se relacionar, esse também é um estilo de vida que aproxima de pessoas muito interessantes. Pessoas que tem pensamento parecido, ou nem tanto, que ajudam a repensar conceitos e que inspiram. Já falei várias vezes que essa viagem tem sido feita das pessoas que nós conhecemos, e não dos lugares lindos que visitamos. Foram elas que nos trouxeram até aqui!

  4. Custo de vida mais baixo, porque você consegue abrir mão de algumas coisas que seriam essenciais se tivesse um endereço fixo, afinal você vai ficar lá pouco tempo, a casa não é sua para incrementar a decoração e a coisa não cabe na mala. Além de lembrar que o custo de vida em geral no Sudeste Asiático é 50% mais barato do que no Brasil, por exemplo.

 

O que mais eu preciso saber sobre ser nômade digital?

Largar tudo, dar a volta ao mundo, tirar um ano sabático ou viajar várias vezes por ano não torna ninguém um nômade digital. Ser nômade digital também não resolve todos os problemas, porque eles só tomam formas e proporções diferentes e você precisa aprender rápido a lidar com isso.

Você vai ter que focar no trabalho e ter disciplina para tornar isso um estilo de vida que vai ser sustentado a longo prazo, por anos. Entenda que para chegar naquela praia paradisíaca ou na cidadezinha de contos de fadas haverão incontáveis dias e noites de trabalho duro para pagar a conta e talvez você precise passar 90% do tempo trabalhando lá também. Você também terá dias que vai querer desistir de tão grande que é a pressão de dar tudo certo.

Eu nunca desencorajei ninguém a correr atrás dos seus sonhos, principalmente sobre viajar. Jamais! Quem nos acompanha aqui no blog sabe disso. Acho que todo mundo deve tentar a mudança se julgar que ela vem para o bem, não importa qual seja a mudança. Mas já faz alguns meses que me sinto na obrigação de mostrar o lado complicado dessa vida nômade para que as pessoas não se frustrem ou se sintam um fracasso por não terem se adaptado. Eu vivo isso no meu dia-a-dia, não é fácil, tenho minhas inseguranças, meus momentos de crise como todo mundo.

Se o objetivo for sair para viajar, fazer uns freelancers e quem sabe voltar, vai lá, tenta! O "não" é certo, tem que tentar conseguir o "sim"! E se quiser voltar, volta sem culpa, cabeça erguida por ter tentado! Para alguma coisa a experiência vai ter valor. Minha intenção aqui foi só mostrar que para escolha existe uma renúncia. No nosso caso, vale super a pena ter esse estilo de vida!

Ainda não conhece nosso trabalho?

Aqui está uma parte do nosso portfólio de interiores. Veja também o PORTFOLIO completo.

 

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Eduardo e Mônica

Somos Eduardo e Monica e estamos viajando o mundo desde 2014 e trabalhando com fotografia. O blog fala de viagem e fotografia e moramos no Sudeste Asiático, na Tailândia.

http://www.eduardo-monica.com
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