Guia Prático: Como Fazer a Transiberiana
Texto: MONICA MORAS Fotos: EDUARDO VIERO e MONICA MORAS
Há muito tempo queríamos fazer a Transiberiana na rota que leva até a China passando pela Mongólia, pelo mistério e desafio que envolve essa viagem. Todo mundo dizia que era difícil, que a comunicação era impossível e que no final sempre dava tudo certo. Mas não havia muitas informações claras, um guia da Transiberiana em português (inglês pode ser confuso), nem imagens relevantes nas buscas que fizemos antes de embarcar para a Rússia, nosso primeiro destino da viagem pela Ásia que começou em 2014.
Fomos, fizemos a Transiberiana (leia aqui), foi difícil, deu tudo certo e foi uma das experiências mais enriquecedoras que tivemos. Baseados na nossa própria experiência e vivência durante um mês cruzando a Rússia, decidimos montar um Guia Prático da Transiberiana em português para ajudar quem quer encarar essa aventura. No final desse guia tem os posts de todos os lugares que visitamos na Rússia e o post O Que Você Precisa Saber Antes de Ir Para a Rússia com informações sobre os russos e tudo que o país tem a oferecer por região.
Como Fazer a Transiberiana?
Veja as 31 perguntas com as respostas de quem já fez essa aventura:
1. O que é a Transiberiana?
É uma ferrovia que atravessa a Rússia e que também possui uma rota que atravessa a Mongólia levando até a China. A Rússia não tem ônibus de longas distâncias, mas tem trem, no caso a Transiberiana. São mais de 9000 mil quilômetros de trilhos que ligam Moscou até Vladivostok. Nós fizemos a rota Transmogoliana, que leva de Moscou até Pequim, passando pela Mongólia.
2. Como ela funciona?
É uma ferrovia, então você pode entrar no trem em qualquer estação ao longo dela e descer em qualquer outro ponto por onde ela passa. Comparando ao Brasil, seria um ônibus interestadual “pinga-pinga”. Nós começamos ela em Moscou, paramos em Ekaterimburgo, Irkutsk e Ulan-Ude, na Rússia, e em Ulaanbaatar na Mongólia.
Você decide quanto tempo quer ficar em cada lugar e é só comprar a passagem para o próximo destino. Quando fizemos nossa pesquisa, os blogs informavam algumas poucas paradas, mas na verdade são centenas de cidades ao longo da rota. Se imaginar o tamanho do país, que são dois continentes e oito fusos horários num só lugar, dá para ter uma noção. Cada trem tem uma escala de horários e cidades a cumprir e eles são pontuais, sempre de acordo com o horário de Moscou. Isso, porque a Rússia é um dos maiores países do mundo e tem 8 fusos horários. Controlar pelo horário de Moscou fica mais fácil. Essa Tabela fica exposta em cada um dos vagões do trem.
Por exemplo, de Moscou para Ekaterimburgo, poderíamos levar 24h, 36h, 48h ou 54h. Nós escolhemos o trem de 36h pelo horário de partida da cidade, chegada no destino e pelo preço que pagaríamos. Mas não ficamos confinados as 36h dentro da cabine, porque ele vai parando nas estações, e algumas paradas chegam a ser de 50 minutos, tempo suficiente de esticar as pernas, reabastecer o estoque de comida e bebida (no trem é absurdamente caro), conversar com pessoas de outros vagões, ou até mesmo experimentar a comida local que as babuskas (vovós) vendem nas plataformas.
Os trens expressos são um pouco mais caros, bem mais rápidos, tem pouquíssimas paradas e as cabines tem um pouco mais de espaço. Vale a pena em trechos mais longos! Nós estivemos na rota da Transiberiana durante 25 dias e mais de 130h foram gastas apenas dentro do trem, isso sem contar os trechos de trem fora da rota no mês que passamos no país.
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3. Eu preciso dormir no trem?
Se o trecho envolver o horário noturno, sim! Na classe Kupê (segunda) todos ganham roupa de cama limpa, um colchonete para por sobre a cama, cobertor, travesseiro e uma toalha de rosto. Na terceira classe (Platskartny), a roupa de cama é opcional na hora da compra da passagem, mas o colchonete e travesseiro são fornecidos gratuitamente.
Sobre as Camas: normalmente pegávamos uma cama em baixo e outra em cima do mesmo lado. No compartimento da cama de baixo deixávamos as mochilas (tem que levantar a cama), e no de cima, no compartimento que é fechado que ocupa o teto do corredor, deixávamos as coisas de valor e o estoque de comidas para ter um acesso mais rápido em cada parada.
A cama de baixo balança menos, é onde fica a mesa para as refeições e onde as pessoas ficam sentadas durante o dia. Tendo uma cama embaixo, nunca atrapalhávamos ninguém quando queríamos mexer nas mochilas dos equipamentos ou abrir a escadinha para subir para a outra cama onde deixávamos a sacola das comidas durante o dia.
Todas as camas tem uma cestinha presa na parede para colocar pequenos objetos pessoais, um gancho para casacos e uma luz baixa individual. Ótima para leitura e para não acender a luz da cabine durante a noite.
Durante as noites brancas dormir é bem complicado, porque é difícil saber o horário com tanta claridade na rua. E no trecho que leva para Sibéria o trem balança muito devido a imensa quantidade de curvas. Dormir é uma tarefa bem difícil.
Onde Ficar em Cada Cidade da Rússia: cada cidade que paramos, pegamos as melhores localizações, mas nem todos os hostes eram bons, por isso não vou citar nomes.
Moscou: Perto da estação Arbatskaya, porque tem restaurantes, Hard Rock também na rua Arbat, comércio, mercados, metrô, embaixada da Mongólia e fica perto a pé da Praça Vermelha.
São Petersburgo: O mais próximo possível da avenida Nevsky, porque todas as atrações estão concentradas nos arredores e é possível fazer tudo a pé.
Ekaterimburgo: O mais próximo da estação possível.
Irkutsk: Entre a estação e a Kirov Square, porque fica perto de tudo.
Ilha Olkhon: O mais próximo do terminal de vans possível, porque é perto dos restaurantes. Nós ficamos na Pensão da Nina atrás do único mercado da ilha, mas foi agendado pela menina do hostel de Irkutsk.
Ulan-Ude: o mais próximo da estação possível, porque tudo é muito perto, mesmo o centrinho onde está o Monumento do Lenin.
4. Eu preciso comer no trem?
Normalmente sim, porque as viagens são longas. Todo vagão disponibiliza água quente grátis e por isso todo mundo leva estoque de macarrão instantâneo tipo cup noodles, mas bem melhores que já vem até com talheres, levam purê de batata instantâneo, que fica melhor misturado com leite, e estoques de chá. É divertido, porque quem tem chá na cabine deixa na mesa para que todos possam experimentar sabores diferentes. E como lá os chás são bons e fortes, dá para usar o mesmo saquinho até três vezes. De resto são doces, salgados e algumas coisas que dá para comprar nas plataformas das estações.
Comer no restaurante do trem só se realmente precisar comer comida de sal, feita na hora, porque é muito caro e só aceita dinheiro. Normalmente a bebida não é gelada e a comida nem é tão boa assim. Comprar salgadinhos, doces e bebidas das comissárias também costuma sair bem caro. Sempre comprávamos um chá das comissárias e ficávamos com a xícara o tempo todo da viagem para pegar a água quente e usávamos nossos próprios saquinhos de chá. Nossa caixinha de chás durou a viagem inteira!
Nos mercados russos vendem um kit viagem que inclui copos, pratos e talheres descartáveis com quatro peças de cada. Mas como nosso macarrão instantâneo sempre vinha com talheres e pegávamos um chá na xícara de vidro no trem, nunca compramos o kit.
5. Pode beber no trem?
Nunca tentamos com a porta da cabine aberta, porque nossos companheiros de viagem russos sempre fechavam. Preferimos confiar neles. Teve cerveja quente e vodka.
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6. E como faz para tomar banho?
Pergunta difícil! Nas linhas regulares que usamos, nenhum tinha chuveiro. Nossa teoria é de que estávamos na Rússia, onde a maioria das pessoas sequer usam antitranspirante (não imagine o cheiro!) e no inverno seria impraticável um banho no trem. O que acontecia é que toda a noite existia uma disputa acirrada pelos dois banheiros do vagão. Todos saiam deles cheirosos com suas necessaires e as toalhinhas úmidas. Isso faz parte de fazer a Transiberiana.
O banheiro é bem espaçoso e tem uma grade tipo aquelas de vestiário de academia no chão, então dá para se virar. Nós tínhamos lencinhos umedecidos, que sempre ajuda nessas horas. Na linha expressa havia primeira classe, mas não sabemos se tem chuveiros, pois na Kupê onde viajamos um trecho, não havia. Nem as pessoas que viajaram conosco sabiam responder se algum vagão tinha chuveiro e as comissárias não falam inglês.
Acredito que apenas o trem expresso tenha banho. Aquele do livro O Aleth do Paulo Coelho, que faz o trajeto em 1 semana e custa caríssimo. Essa opção é oferecida pela empresa Golden Eagle: http://www.goldeneagleluxurytrains.com
Dica: o banheiro fica fechado nas paradas longas. A comissária tranca ele minutos antes do trem parar e só abre depois que ele parte. Por dois motivos: segurança, para que ninguém que não seja passageiro esteja no trem, ou coloque algo lá dentro, e para que os dejetos não fiquem nos trilhos da estação, já que a descarga, que é acionada com o pé, abre o fundo do vaso sanitário e tudo cai nos trilhos. Sim, dá para ver os trilhos a cada descarga!
7. É seguro?
É um trem e achamos bem seguro. Eu viajaria sozinha sem problema nenhum e o máximo que faria seria pegar a cama de cima, como vi muitas meninas russas fazendo. Dentro da cabine também tem uma tranca que só a comissária consegue abrir por fora.
Na questão de roubos, sempre observamos o pessoal com cuidado redobrados nos documentos. Nós mesmos ficamos bem atentos a isso. Toda vez que o trem faz alguma parada, o banheiro fica fechado e é sua opção descer ou não. Nós mantínhamos todo o equipamento conosco e deixávamos apenas as mochilas na cabine.
As estações são bastante vigiadas por militares armados e cachorros treinados, e toda a bagagem passa por raio x pelo menos 3 vezes antes do embarque.
8. Tem tomada?
Na segunda classe, tem. São quatro tomadas de 50v pelo corredor e duas de 220v em frente aos banheiros. Na Rússia os pinos são mais grossos, então é melhor comprar um adaptador local para conseguir usar elas, senão o plug fica caindo o tempo todo. Os adaptadores internacionais não funcionam também.
9. Dá para trabalhar no trem (nômades digitais)?
Depende! Escrever no computador é ok, mas a tomada é 50v, não recomendado para carregar computadores. Fotografar é ok também, basta pedir para as pessoas e ser o mais simpático possível. A mesa que tem na cabine é pequena, então você precisa torcer para os companheiros de cabine não queiram espalhar comidas nela. Normalmente o pessoal é bem gentil e atencioso quando você precisa trabalhar e precisa de espaço ou silêncio. Tem que levar adaptador de tomada, porque os pinos são grossos na Russia as vezes o carregador fica caindo.
10. Tem wifi no trem?
Não, nem nas estações. Mas se precisar de taxi, por exemplo, basta pedir para a comissária agendar e o taxista vai estar na plataforma, em frente à porta do vagão esperando.
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11. Dá para andar pelo trem?
Sim! Viajamos num trecho na mesma cabine de uma menina que estava com os amigos. Só que os amigos estavam em outro vagão e só víamos ela à noite, quando voltava para dormir. Para ir para o restaurante tem que atravessar alguns vagões, só tem que saber para que lado ir.
12. Como funcionam as classes?
Existe o trem expresso que faz a linha da China (Transmogoliana) que é mais espaçoso, mais confortável, tem tomada na cabine e é mais rápido. Nesse existe primeira, segunda, terceira e quarta classe. Nas linhas regulares, as classes vão da Kupê (segunda) até a quarta classe.
KUPE: Equivale a segunda classe, oferece roupa de cama, um quarto para quatro pessoas com porta, luz individual e um espelho. A porta tranca por dentro. Alguns vagões da Kupê possuem ar-condicionado e os que não possuem, as janelas abrem bastante. Todos tem tomadas, sendo apenas duas 220v e as demais de 50v. Embaixo das camas existe um bom espaço para uma mala/ mochila média ou as várias sacolinhas de plástico e sacos de viagem que os Russos adoram usar. Tem dois banheiros por vagão. Boa para descansar nas viagens longas.
PLATSKARTNY: Equivalente a terceira classe, não oferece roupa de cama, mas pode ser paga a parte na hora da compra da passagem ou no vagão com a comissária. Não existem portas, apenas algumas divisões com espaço para 6 camas bem juntinhas. As camas tem o mesmo modelo da classe Kupê, sendo a cama superior mais alta e o espaço da bagagem é quase inalcançável, e as duas camas extras que ficam na janela são mais estreitas e balançam bem mais. Ou seja, é um vagão leito onde todos podem se ver a qualquer hora e os piores lugares são as camas da janela, em especial a de baixo que vira mesa durante o dia (ela gira toda!). O valor da passagem é consideravelmente mais barato do que a Kupê. Esse vagão tem dois banheiros apenas, ar-condicionado e é bom para conhecer um pouco melhor os russos.
QUARTA CLASSE: Ideal para distâncias mais curtas, pois são bancos normais (não reclináveis), como num ônibus. O valor também é bem barato. As vezes as linhas regulares nem oferecem a quarta classe e em alguns trechos tivemos “colegas de quarto” por pouquíssimas horas durante o dia.
PRIMEIRA CLASSE: Não vimos, mas sabemos que é cara e existe apenas no Expresso Transiberiano (no final do post) feito pela Golden Eagle, com cabines privadas, banheiro um pouco mais confortáveis, mas que não vale o investimento para quem quer de fato estar na Transiberiana. Aquela mesma descrita no livro O Aleth do Paulo Coelho.
13. Tem lugar para colocar a mala / mochila?
Tem, desde que não seja muita coisa. Em baixo da cama de baixo existe um espaço divido onde colocávamos nossas mochilas (42L) e na parte de cima, num espaço que fica em cima do corredor, colocávamos apenas as mochilas com os equipamentos fotográficos, porque era mais fácil de movimentar e mais seguro deixar durante paradas mais longas.
14. Como eu compro as passagens?
A primeira coisa a saber é que o horário do trem é o de Moscou, então tem que cuidar muito na hora da compra por causa do fuso horário. Você pode comprar um bilhete saindo de Irkutsk para as 10h da manhã de Moscou, mas na verdade é às 15h da tarde que ele de fato vai parar em Irkutsk. Tem que ficar bem atento para não ter que pegar o trem de madrugada ou fazer uma viagem de dia, quando queria fazer a noite para economizar no hostel. Nós gastamos 1000 dólares parar cada um em passagens, mas poderia ter sido bem menos se soubéssemos que comprar no guichê sai até pela metade do valor da internet.
Existem três formas:
1- PELA INTERNET ( http://pass.rzd.ru )
Vantagens
Tudo em inglês,
É possível escolher a classe, o vagão, a cabine e o posicionamento das camas.
O pagamento é feito pelo cartão de crédito / Paypal / travel money.
Como existe um cadastro, todas as viagens ficam registradas lá. Só vimos trens dessa companhia nas estações, com exceção do trem que leva até Pequim.
A opção de luxo, com cabines é pela Golden Eagle: http://www.goldeneagleluxurytrains.com
Desvantagens
A compra da passagem tem que ser feita com mais de 24h de antecedência.
É consideravelmente mais caro, quase o dobro do valor.
Algumas vezes o cartão de crédito é recusado sem motivo ou o site do banco simplesmente não entra para por a senha.
A confirmação/bilhete é recebida por email 24h depois da compra.
É necessário imprimir a confirmação/bilhete.
Algumas vezes é necessário ir até a estação trocar a confirmação pelo bilhete de embarque. Nesses casos tem uma tarja vermelha enorme com esse aviso na confirmação.
2- PESSOALMENTE NOS GUICHÊS DA ESTAÇÃO
Vantagens:
Pagamento no cartão de crédito / em dinheiro / travel money.
É possível escolher o trem, horário, a classe e a posição da cama.
A confirmação/ bilhete sai na hora.
É possível comprar o bilhete pouco antes do trem chegar.
Desvantagens:
Tudo em russo. Se fizerem alguma pergunta ou algo der errado fica bem difícil entender o que houve, porque ninguém fala inglês na estação, nem o pessoal das informações.
Mas para tudo existe uma solução: nós entrávamos no site de compra de passagens (http://pass.rzd.ru ) onde pesquisávamos o trem e horário de partida e pedíamos para alguém da recepção do hostel escrever tudo isso em russo junto com a nossa cidade destino e nossa preferência de classe e camas (um em cima e outra em baixo). Chegávamos no guichê e entregávamos o bilhetinho, o cartão de crédito, os passaportes e apenas aguardávamos nossas passagens. Se algo desse errado, pedíamos para o caixa escrever em russo num bilhetinho, mas isso só aconteceu uma vez, quando a compra da passagem de Ulan-Ude, Rússia, para Ulaanbaatar, Mongólia, deveria ser feita num outro caixa especial no segundo andar, por ser viagem internacional.
Atenção: Em cada guichê existe um bilhete em russo com o horário de atendimento do caixa. Então preste atenção nos horários descritos para não pegar uma fila onde o caixa vai sair para o almoço pontualmente sem atender todo mundo.
Em Moscou: A estação da Transiberiana em Moscou é a Kazansky (o teto por dentro é verde). Essa estação é acessível pela estação de metrô Komsomolskaya da linha vermelha. Preste muita atenção no mapa, pois o metrô da acesso a 3 estações de trem, 2 de um lado da avenida e uma do outro, no caso a Kazansky.
3- PESSOALMENTE NAS MAQUINAS DA ESTAÇÃO
Vantagens:
Em algumas estações existe a opção de compra de bilhete em inglês.
É possível escolher o trem, horário, a classe e a posição da cama.
É o mesmo valor de comprar no guichê.
O pagamento é no cartão de crédito.
Desvantagens:
Mesmo sendo em inglês, algumas coisas estão em russo, como os nomes das cidades.
Dica: Se está na estação, compra no guichê com o bilhetinho escrito em russo, porque o preço vai ser o mesmo, só talvez demore um pouco mais por causa da fila.
15. Como eu leio o bilhete se ele está todo em russo?
O bilhete comprado pela internet e diretamente no guichê são visualmente um pouco diferentes um do outro, mas a sequência de informações é a mesma. Veja na fotos o nosso bilhete de Ekaterimburgo para Irkutsk.
16. O bilhete tem validade?
A validade é a do dia para o qual ele foi comprado e a hora marcada nele. Lembrando que a hora marcada é sempre a de Moscou.
17. Tem perigo de não encontrar bilhete para comprar?
Tem sim, por isso quanto antes comprar o trecho, melhor. Sugiro comprar para o próximo destino assim que chegar no destino atual e sempre acompanhar quantos tickets estão disponíveis pela internet (http://pass.rzd.ru ).
18. Dá para comprar no mesmo dia?
Se tiver disponibilidade, sim. Mas cuidado ao comprar pela internet, porque as vezes é necessário trocar ele na estação e esse processo pode demorar um pouco caso você precise da ajuda do caixa (a pessoa), por não conseguir trocar na máquina.
19. Posso comprar um bilhete de Moscou até Vladivostok e ir parando?
Não, porque cada bilhete é emitido de um lugar para outro, com número de trem, data, horário e assento marcados. Não é possível alterar isso. Caso você saia do trem (pare a viagem) antes de chegar no seu destino, o bilhete fica automaticamente invalidado. A Transiberiana é como se fosse uma rodovia que vai parando em cidades. Pessoas usam o trem por ser uma opção mais barata do que um voo. Tem turistas, famílias e pessoas à trabalho.
20. Como faço para embarcar?
No bilhete vem todas as informações impressas em russo (veja a foto acima). Em todas as estações existem painéis com o número do trem, horário de partida e 20min antes dele chegar na estação, aparece o número da plataforma. Quando o número da plataforma aparecer, já dá para ir lá esperar o trem.
Quando ele chegar, basta procurar o vagão pelas plaquinhas que estão nos vidros na entrada de cada vagão e apresentar a passagem e passaporte para a comissária, que sempre acompanha quem não fala russo até a sua cabine. Elas também não falam inglês! De qualquer forma, dentro do vagão, cada cabine e cama é numerada. Depois da partida do trem a comissária entrega a roupa de cama.
Em Moscou: A estação da Transiberiana em Moscou é a Kazansky (o teto por dentro é verde). Essa estação é acessível pela estação de metro Komsomolskaya da linha vermelha. Preste muita atenção no mapa, pois o metrô da acesso a 3 estações de trem, 2 de um lado da avenida e uma do outro, no caso a Kazansky.
21. E na hora de desembarcar?
Tem que ficar atento ao horário de chegada com base no fuso de Moscou. Existe uma tabelinha em cada vagão com o nome da cidade, horário de parada e tempo de parada. Quando o trem parar, tem que descer logo. Se tiver dúvida, a comissária pode ajudar ou avisar a hora de descer.
Ela também chama o taxi oficial, já avisa o valor aproximado da corrida e o motorista fica esperando na porta do vagão. Fizemos isso em São Petesburgo, pois chegamos de madrugada, o metrô estava fechado e os taxistas de lá têm péssima fama, principalmente à noite e com turistas. Claro, toda comunicação com a comissária é em russo / gestos / desenhos.
22. Qual a melhor época para viajar?
Depende! Nós fizemos no verão Russo em julho, durante as noites brancas, quando o sol não se põe no país e a madrugada parece final de tarde. Queremos fazer de novo, mas dessa vez no inverno! Funciona assim:
JUNHO, JULHO, AGOSTO: alta temporada, trens sempre com bastante gente, temperaturas mais altas, na média de 25ºC, porque estamos falando da Rússia, e cheiro desagradável, porque nem todo mundo gosta de usar antitranspirante por lá. A paisagem nessa época é bonita e os preços das passagens são ligeiramente mais caros nos trens com horários melhores. É época em que se encontra mais turistas, mas também se tem contato com as famílias russas que estão de férias indo visitar os parentes.
ABRIL, MAIO, SETEMBRO: fora de temporada, menos turistas, menos famílias russas viajando de férias, mais pessoas viajando à trabalho e preços dos bilhetes sem muitas alterações independente do horário. É outono, com a paisagem mais bonita, as temperaturas são ligeiramente mais baixas, acima dos 10ºC (Rússia!) e não se tem tanto o contato com as pessoas.
DE OUTUBRO ATÉ MARÇO: inverno pesado, com temperaturas negativas que chegam aos -50ºC na Sibéria. Muita neve, as vezes o trem não pode seguir viagem por acúmulo de neve nos trilhos, poucas pessoas viajando, preços melhores e provavelmente a paisagem mais linda de todo o ano.
23. Precisa de visto?
RÚSSIA: brasileiros não precisam de visto para a Rússia e tem uma permissão de 90 dias para ficar no país.
MONGÓLIA: brasileiros precisam de visto para entrar no país por terra com validade de 30 dias. Leia aqui como aplicar em Moscou. Algumas pessoas disseram que não precisava, mas na imigração o oficial olhou primeiro a página do visto e depois a página de identificação do passaporte.
CHINA: brasileiros precisam de visto para entrar no país por terra. O visto tem validade de 3 meses, mas a permanência no país é de 30 dias dentro do período de validade.
Como fizemos: Entramos na Rússia de avião, fizemos a Transiberiana, atravessamos para a Mongólia de trem e de Ulaanbaatar pegamos um voo para Pequim onde ficamos no Visto de 72h saindo para Hong Kong.
24. Como funciona a imigração?
A compra da passagem do trajeto que leva para outro país é feita num guichê especial e que tem horário de funcionamento. O horário de partida do trem é oficial da capital do país de partida, e o horário de chegada é o oficial do país de destino. Em cada vagão existe uma tabela informando o trajeto e horários.
A imigração de saída acontece no horário do país que se está deixando e a imigração do país de destino, no seu horário. Ou seja, da Rússia para Mongólia existe uma diferença considerável de fuso horário (6h+) , então é preciso estar atento à tabela e o horário correto da próxima imigração. Ou seja, você sai da Rússia no horário de Moscou e entra na Mongólia no horário de Ulaanbaatar, no caso são 6 horas de diferença a mais de Moscou para Ulaanbaatar.
Tudo é feito dentro do trem! Os oficiais da imigração e policiais entram em cada vagão, fazem a conferência dos documentos, revistam cada uma das cabines e recolhem os formulários de chegada no país, o arrival card que as comissárias entregam antes. O carimbo é dado na hora, dentro da cabine mesmo. Só é autorizada a saída da cabine durante o procedimento de revista.
Os oficiais russos carregam um computador, uma pastinha para o departure card e o carimbo para que tudo seja feito na cabine, enquanto cães policiais farejam se há drogas pelos corredores, devido a maioria dos viajantes serem sacoleiros. Os oficiais mongóis recolhem os passaportes, conferem fotos, vistos, formulários preenchidos, carimbam todos os passaportes na cabine da comissária e devolvem para os respectivos donos. Tudo isso leva mais ou menos uma hora e nesse tempo não é permitido sair da cabine. Fique atento ao horário da imigração, pois alguns minutos antes a comissária vai trancar os banheiros e eles só serão abertos minutos depois do trem já estar andando novamente.
Saiba: durante o processo de imigração entre Rússia e Mongólia você vai escutar barulhos de ferros batendo. Na verdade os ferroviários estão trocando as "rodas" do trem, pois os trilhos na Mongólia são mais grossos do que os trilhos da Rússia.
25. Se ninguém fala ou entende inglês, como eu me comunico durante tantas horas no trem?
Simples: falando em inglês, português ou qualquer outra língua que saiba, sorrindo, fazendo gestos, mantendo papel e caneta e smartphone com fotos e tradutores sempre por perto! Ah, e deixando claro que é brasileiro desde o primeiro momento. Eles nos adoram!
Por incrível que pareça, nos entendemos em 90% do tempo que estivemos no trem, mesmo sem um saber a língua do outro. Garantimos boas risadas, bons momentos de apreciação da paisagem, aprendemos algumas coisas em russo e ensinamos outras em inglês, além de normalmente fazermos as refeições juntos.
No começo é difícil, frustrante não conseguir se expressar, exige paciência e bom humor, mas as coisas fluem tão naturalmente que na hora de ir embora até dá para sentir saudade.
26. Quanto tempo demora?
Depende! Se pegar o trem que faz a rota inteira quase sem parar, que é um trem confortável, de primeira a terceira classe, a viagem leva 7 dias. O nome é Expresso Transiberiano. Na nossa opinião isso é bem sem graça, porque não vai ter o mesmo contato com o pessoal, aquela movimentação de famílias no chegar e partir, não conhece as cidades ao longo do caminho e não tem possibilidade de trocar de classe e ter novas experiências.
Nós ficamos um mês na Rússia e 130 horas em 25 dias na rota Transiberiana. Como o visto para brasileiro é de 90 dias, cada um decide quanto tempo a viagem vai levar e quantas paradas vai fazer.
27. Foi difícil ficar tanto tempo no trem?
Em alguns momentos foi, mas o tempo passa rápido, porque tudo é novo, sempre se arranja algo para fazer ou conversar. Ficamos no total de todos os trajetos mais de 130h dentro do trem ao longo de 25 dias que ficamos nela, sendo que um dos trechos foi de 54h. Paciência e bom humor são essenciais!
28. Quanto custa?
Nós gastamos 1000 dólares cada um, de Moscou a Ulaanbaatar, comprando passagens pela internet (caro!) e direto no guichê (barato!), incluindo as viagens de trem fora da rota Transiberiana, como para São Petesburgo, por exemplo.
Sendo mochileiro, recomendo sempre comprar a passagem no guichê para economizar, mas confira antes na internet ( http://pass.rzd.ru ) quais são as opções, pois as vezes o trem noturno pode ser bem mais caro, por exemplo. Além disso tente chegar na cidade já com o hostel reservado, porque normalmente custa mais caro pegar uma cama na hora.
29. Qual a diferença da Transiberiana e do Expresso Transiberiano?
Transiberiana é a ferrovia, onde as pessoas pegam o trem para fazer trechos entre as várias partes da Rússia. O Expresso Transiberiano é um trem expresso que cruza a Rússia de Moscou a Vladivostok sem parar durante 7 dias, apenas as paradas obrigatórias de poucas horas, custa bem caro e tem cabine privada com banheiro. Confira os valores da empresa Golden Eagle que opera esse trem. Esse é o trem que o Paulo Coelho descreve no livro O Aleph. Se você não se preocupa com o dinheiro, não quer passar trabalho e quer apenas curtir a paisagem, o Expresso Transiberiano é a melhor opção. Se tiver pressa, escolha avião. Mas se quiser uma aventura e entrar de cabeça na cultura da Rússia, escolha a Transiberiana como ela é.
30. Como eu planejo a rota?
Foi difícil para nós também. Primeiro você precisa pesquisar quais cidades gostaria de visitar e ver se tem trem que chega lá. A Olkhon Island por exemplo só é acessível de van. Nós pesquisamos através do site das passagens (http://pass.rzd.ru ) os destinos.
Nosso roteiro foi Moscou, São Petersburgo, Moscou, Ekaterimburgo, Irkutsk, Olkhon Island, Listvyanka, Irkustsk, Ulan-Ude e Ulaanbaatar. Deixamos de visitar Novosibirsk e Krasnoyarsk pelo nosso plano original. Veja todos os posts da Russia.
Mas a Transiberiana se conecta a várias outras ferrovias depois que sai da Rússia. Você pode ir até Tóquio, Hanoi, Bangkok ou Shanghai apenas mudando a ferrovia.
31. Qual a opinião geral de vocês?
A Transiberiana foi uma das experiências mais difíceis e enriquecedoras que já tivemos (leia aqui) e hoje vemos que passou muito rápido. Seria muita pretensão dizer que foi uma imersão cultural, mas certamente foi algo bem parecido com isso.
Passamos dias e noites convivendo com russos no mesmo pequeno espaço. Pessoas que nos ensinaram um pouco mais sobre seu país, sua cultura, que compartilharam conosco suas comidas (muitas vezes da horta de casa), fotos impressas de família, histórias de vida e que demostraram satisfação por estarem conosco durante todo aquele tempo. Foram eles que nos mostraram a verdadeira Rússia.
Não esqueça de ler nosso relato e ver toda a galeria de fotos sobre essa experiência única no post Transiberiana: Cruzando a Rússia sobre Trilhos.
Tem mais dúvidas? Manda para gente aqui ou nos comentários!
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