Como Foi Visitar Khlong Toei em Bangkok, A Maior Favela da Tailândia
Escrito em 03/02/2018 | Atualizado em 02/07/2021
Texto e Fotos: MONICA MORAS
Eu visitei a maior favela da Tailândia, Khlong Toei em Bangkok. Confesso que até agora ainda é difícil explicar o que senti, porque foram várias coisas das boas e das ruins, e tudo isso graças ao projeto Local Alike.
QUEM É LOCAL ALIKE?
Desde 2015 temos uma parceria e amizade muito grande com as meninas do The Yard Hostel de Bangkok. Virou a nossa casa longe de casa na Tailândia, e em 2017 elas me levaram para participar do Sustainable Brands Bangkok 2017, um evento mundial de sustentabilidade que o The Yard foi falar das práticas que adota no hostel e que viraram modelo no país. Na mesma rodada de conversa estava o representante do Local Alike.
Local Alike é um projeto social que organiza tours que mostrem a realidade do lugar e onde mais da metade do valor do tour seja retornado diretamente para a comunidade visitada. Ele está na Tailândia e alguns outros países do Sudeste Asiático.
O lema é Good Traveling Lasting Impact e foi criado depois que os idealizadores, nascidos em comunidades, perceberam que 90% dos turistas não gastavam nenhum centavo na comunidade visitada. O dinheiro todo do tour ia diretamente para a agência, e sem as pessoas gastarem (adquirirem produtos), a comunidade só era explorada (e fotografada!) sem ter um retorno financeiro ou suporte das agências de turismo. Isso mesmo, não são apenas os elefantes e tigres que sofrem com os turistas irresponsáveis.
Os tours dão a oportunidade das pessoas das comunidades falarem, mostrarem os rostos e histórias por trás das estatísticas. E criam uma chance para quem quer colaborar, mas não sabe como e nem tem tempo de ser voluntário.
KHLONG TOEI EM BANGKOK, A MAIOR FAVELA DA TAILÂNDIA
Quando eu escolhi conhecer Khlong Toei, foi porque vi que era dentro de Bangkok e pensei que se tratava apenas de uma comunidade carente e nós veríamos os projetos sociais que acontecem lá. Cada bairro de Bangkok tem projetos diferentes, mas eu jamais poderia imaginar que estava indo numa favela.
E jamais diria que era uma, até eles me contarem. Me parecia mais uma pequena comunidade como tantas outras que já visitei em Bangkok.
Khlong Toei é marginalizada. É um lugar que ninguém da cidade gosta. Taxistas evitam ir lá, pessoas de Bangkok ou do resto do país falam mal sem nunca ter ido, os moradores sofrem preconceito quando saem para estudar, sendo excluídos dos grupos, e os trabalhadores são rebaixados, conseguindo apenas sub empregos. O governo auxilia, mas o problema é social, e os líderes da comunidade lutam para reverter esse preconceito e dar mais oportunidade de educação para a nova geração.
COMO É O TOUR EM KHLONG TOEI
Antes de começar o tour, vimos várias estatísticas. Números e mais números que são tão familiares para nós brasileiros. Mas nenhum número prepara para o choque brutal de realidade de ver as pessoas, ver os rostos, as vidas e histórias por trás daquelas estatísticas.
Andando pelo bairro, fomos na escola, muito bem organizada, todos uniformizados e tendo aulas de inglês, graças ao projeto. Conhecemos a senhora que vende o melhor frango assado do bairro, os senhores que passam os dias em cadeiras no ginásio, porque de tanto carregar peso na vida, perderam a mobilidade das pernas devidos aos danos severos na coluna.
Detalhe: eles estavam escutando Girls Just Want to Have Fun da Cindy Lauper no radio e uma senhorinha passou dançando loucamente. Aquele momento que ou a gente dança ou fotografa. Eu dancei!
Conhecemos o postinho de saúde que oferece remédios de necessidade básica, a sala de fisioterapia toda improvisada, mas que dá qualidade de vida para quem precisa através de voluntários. Vimos a senhora que vende as fitinhas necessárias para fazer as guirlandas de flores para ofertar no templo, e também os tantos marceneiros que fazem peças lindas e vendem a preços muito abaixo do mercado.
Dizem que é uma comunidade perigosa, mas como todos os lugares, a maioria das pessoas são boas e trabalhadoras. O problema geralmente é a noite. Mas nós fomos de dia, fomos apresentados as mais diversas realidades, entramos em casas que foram reconstruídas depois de um grande incêndio, casas essas construídas com madeira de palete desmontado.
Conhecemos o khlong (canal em tailandês) que dá nome a comunidade, que hoje está poluído com o crescimento da cidade, mas que há 40 anos dava para tomar banho. Vimos senhora que cria peixes na água debaixo da sua casa, entramos em casas que inundam a cada enchente e também a hortinha comunitária.
Eu vi tristeza com os meus olhos, mas eu vi gente sorrindo para mim. Gente que viu em nós uma pontinha de esperança. Nós fomos sem medo, nós ouvimos cada história sem preconceito, paramos em barraquinhas para comprar comidas por 30% do valor que se vende fora, na cidade. Porque se vender caro, as pessoas não tem como consumir. Eu vi e vivi aquilo, ninguém me contou.
Eles trabalham mais que a média, e ganham menos que a média. Entre os tantos exemplos que eu poderia dar aqui, o mais fácil de entender é sobre as guirlandas de flores. Khlong Toei é responsável pela maior produção de guirlandas de Bangkok.
Tudo é feito lá e distribuído para ser vendido na cidade. Na rua, uma guirlanda custa 20 baht. Em Khlong Toei eles vendem por 2 baht. Eu levei 10 minutos para fazer a minha guirlanda e alguém me pagaria 2 baht, algo em torno de 0,20 centavos de real ou 0,06 centavos de dólar.
O tour começa de manhã com uma palestra para explicar quem são e como se organizam as pessoas do bairro. Depois andamos pelas três regiões do bairro, fizemos uma parada para almoço incluído no tour, e depois fomos aprender a fazer as guirlandas. Das 9am às 15pm.
VALE A PENA FAZER O TOUR PELA FAVELA EM BANGKOK?
Visitar a maior favela da Tailândia, Khlong Toei em Bangkok, me abriu os olhos para uma realidade que eu não conhecia. E olha que eu tenho uma longa história de amor por esse país, como vocês já sabem (falei aqui). Me fez perceber o quanto eu sou privilegiada. O quanto nós, que vamos até a Tailândia mesmo que com o dinheiro contadinho, somos privilegiados.
Vi também o quanto é importante suportar o local. Não são apenas os animais que são explorados por aqui, as pessoas também. Quando a gente consome o produto local, quem se beneficia diretamente é a comunidade.
As pessoas de lá não nos viram como “notinhas de dólares caminhantes” que tinham a obrigação de ajudar ou consumir. Eles nos viram como uma esperança de mostrar para a própria sociedade quem eles são e que eles tem valor, que eles precisam apenas de oportunidade. O turismo conscientiza a comunidade a se manter organizada, limpa e a se unir para que nós, os farang (gringos) continuemos indo lá.
É um tour caro, mas é um tour social. É um tour que mostra pessoas e realidades, e que ainda é a melhor opção para quem está apenas de passagem e não consegue voluntariar.
COMO AJUDAR / PARTICIPAR
Se você tem interesse em ajudar ou participar de algum tour (são várias opções pelo país), você pode agendar diretamente no site da Local Alike. Existe a opção de tour individual (US$84) ou coletivo (US$62). Eu agendei pelo hostel The Yard Bangkok o tour coletivo.
Você fez algum tour pela favela? Seja no Brasil, India, México... Conta aqui nos comentários como foi!
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